“Escola do Samba” é um festival que surgiu em 2008, no Morro do Querosene, em São Paulo, promovido pelo Instituto Nação. com o objetivo de fomentar e difundir o samba como ferramenta cultural de transformação social. A partir de 2010 suas edições passaram a ser realizadas no Ponto de Cultura Afrobase, localizado no bairro do Rio Pequeno, periferia da Zona Oeste de São Paulo. Em um ambiente informal de interação social caracterizado por diversas vertentes artísticas, o festival propiciou encontros de troca e acolhimento entre a comunidade e músicos, sempre homenageando importantes sambistas e comunidades tradicionais que mantêm vivas as expressões culturais afro-brasileiras e diaspóricas.
Em tempos de pandemia com um cenário de crise sanitária acentuado por mais de 500 mil mortes vítimas da covid 19 no país surgiu um novo formato para a realização do Festival Escola do Samba, que ganha adaptação para o palco virtual, configurando-se em uma websérie que será produzida pela Kalakuta Produções. Serão seis episódios inéditos, cada um deles com 52 minutos de duração, exibidos aos sábados pelo canal do youtube da Kalakuta Produções a partir de 17 de julho.
Com o propósito de registrar e documentar a pluralidade do samba e as composições autorais desse gênero, a websérie perpassa por histórias narradas, entrelaçadas em depoimentos e cantorias versadas por importantes protagonistas dos batuques de matrizes africanas em São Paulo, ritmos e poesias oriundas de comunidades negras que possuem no cerne de sua tradição a memória dos terreiros, a ancestralidade, as síncopas marcadas nos tambores e tamborins que compõem peças fundamentais do vasto universo que se conhece como samba.
“Em cada edição, quando pensamos na curadoria, partimos do conceito de uma visão expandida que engloba a pluralidade de sotaques, vertentes e cadências que compõem o amplo cenário sócio-cultural do samba. As apresentações ou manifestações da Escola do Samba são executadas de forma fluida e espontânea, em que os conhecedores da matéria podem se expressar legitimando a cultura de um povo que resiste e renasce a cada geração por meio das artes performáticas negras, em sua divina multiplicidade, que permanecem como umbigos a alimentar o Brasil com a seiva rica de ancestralidades africanas, ameríndias e ibérico-árabes”, afirma Paulo Dias
Partindo deste conceito expandido, neste ano o festival Escola do Samba apresenta uma programação diversa e inclusiva, que conta com a participação de importantes nomes, como a Mestra Jociara (do jongo de Indaiatuba/SP), que divide o palco com o baiano Madjah, o Samba de Roda de terreiro de Mestra Dofona, a comunidade do Batuque de Tietê, o samba maranhense de Tião Carvalho e o tradicional "samba de raiz" de Roberta Oliveira, Raquel Tobias e o grupo Sambilê (conjunto permanente e de trabalho contínuo formado por sambistas que tradicionalmente acompanham os convidados do festival desde 2008). A curadoria da próxima edição é assinada por Dinho Nascimento (músico, compositor e capoeirista), Paulo Dias (Músico, pesquisador e presidente da Associação Cultural Cachuera!) e João Nascimento (artista multilinguagens, diretor da Cia Treme Terra e documentarista).
"Para o nosso festival, nos concentramos na musicalidade, nos ritmos e na cadência do samba como patrimônio cultural e incontestável de nossa identidade. Nossos convidados, desde a primeira edição, representam um legado de alegorias poéticas, movimentações estéticas, sonoras e políticas, oriundas, principalmente, dos batuques Banto, das travessias dos navios pelo Atlântico vindo da África e atracando em terras de Pindorama, hoje denominada Brasil, no período da escravização que perdurou mais de 500 anos, deixando resquícios até os tempos atuais”, observa Dinho Nascimento.
A imagem é de Milena Heluana.
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