A vez é delas! Ana Clara fala sobre as mulheres no samba

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Por um longo tempo, as mulheres não tiveram vez no samba/pagode. Em 1945, Dona Ivone Lara usava o nome do primo nas suas composições, porque o preconceito era tão grande, que se estivessem em seu nome, muitas pessoas não aceitariam nem ouvir por ser uma mulher sambista.

As dificuldades das mulheres não só na música, mas na sociedade, ainda são grandes, mas aos poucos essas barreiras vão sendo deixadas para trás. Chegou a vez delas!

Ana Clara é um dos diamantes do nosso samba. Já se apresentou com grandes nomes do segmento como Alexandre Pires, Alcione, Luiz Carlos, Belo, Ferrugem, Péricles e muitos outros. E vem crescendo mais a cada dia, seu mais novo lançamento é o EP "Fã Declarada".

O RRD Samba conversou com a Ana sobre as dificuldades encontradas na música por ser mulher e sobre as novidades da sua carreira.

RRD Samba: Como se sente sendo uma das poucas mulheres representantes do samba/pagode da nova geração?

Ana Clara: Eu me sinto muito feliz por representar essa nova geração do samba e do pagode, mas também sinto bastante responsabilidade. Mas como você mesmo disse, não temos muitas mulheres representando, então sei que eu tenho muita responsabilidade e por estar acontecendo essa renovação e reciclagem que é necessária. Eu espero que  venham outras mulheres porque quanto mais força a gente tiver, mais rápido conseguiremos ultrapassar essa barreira.

RRD Samba: Já sofreu algum tipo de preconceito na música por ser mulher?

Ana Clara: Lembro que quando eu comecei a viajar para cantar, eu via que muitas pessoas iam nos lugares que eu cantava, não muito pela música, mas para olhar sabe? Achavam estranho, porque quando geralmente você vai em uma roda de samba, em um pagode, são sempre homens que comandam a música e eu já tenho um jeito de me vestir diferente que não é aquele lance tradicional e um dia que me marcou muito foi um show em que as pessoas ficavam comentando sobre a roupa e apontando, não iam para curtir. Hoje em dia, isso mudou, estou falando de 5, 6 anos atrás quando não tinham muitas mulheres novas transitando nesse gênero e, hoje, vejo que muitas coisas mudaram. Fico feliz que a gente esteja em um momento oportuno para falar sobre isso, sobre a mulher nesse cenário musical, no samba, mas eu vejo que as pessoas estão entende melhor que a mulher pode estar onde ela quiser.

RRD Samba: Como está sendo a experiência no lançamento do EP 'Fã Declarada' na pandemia?

Ana Clara: Esse lançamento do EP foi bem diferente dos outros por conta desse cenário na pandemia. A gente tinha planos de gravar um DVD em abril e o trabalho com certeza seria muito diferente. Então assim, tudo foi feito de casa, a gente tentou ao máximo fazer muito conteúdo para as pessoas porque o entretenimento foi e é fundamental nesse período né. Aí decidimos adiantar o trabalho, seis músicas inéditas para as pessoas darem uma olhada e conhecerem o que vem no DVD, foi um aquecimento para esse dia do DVD. Mas a entrega foi a máxima possível.

RRD Samba: Por que acha que a quantidade de mulheres em outros gêneros é maior que no samba/pagode?

Ana Clara: Acho que outros gêneros também passaram por movimentos femininos, como o sertanejo que também era um gênero extremamente machista que a mulherada tomou conta. Se não me engano a Paula Fernandes foi a pioneira e aí começou a vir mais e mais e conseguiram romper essa barreira. Acho que se pegarmos o top 5 devem ter 3,4 mulheres e isso é maravilhoso né? Acho que só o samba não passou por essa fase ainda, mas eu acho está muito próxima. Hoje, eu vejo muitas mulheres cantando samba, aparecendo e isso é muito bom. Quanto mais mulheres mais fortalece o movimento, o gênero com as mulheres, acho que são fases e essa está chegando para nós.

RRD Samba: Como se enxerga no cenário musical daqui a 5 anos? 

Ana Clara: Tenho uma expectativa grande que o samba esteja mais acessível para as mulheres e para novos talentos, para essa nova geração. Que todo mundo se apoie mais, se fortaleça mais porque isso só vai fazer bem para o gênero. Hoje, eu vejo um momento muito oportuno que estão surgindo muitos cantores novo, grupos novos, que daqui cinco anos a gente consiga ter aproveitado essa onda boa e espalhado o samba muito mais pelo país e pelo mundo.

A imagem é de Caroline Curti.

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